quinta-feira, 22 de setembro de 2011

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Humanismo

Teatro de Gil Vicente

Gil Vicente é considerado o primeiro grande dramaturgo português. Não se sabe ao certo a data de seu nascimento, mas estima-se que tenha sido por volta do ano de 1466. Geralmente é considerado o pai do teatro português. Além de ter sido um grande representante do teatro, desempenhou também tarefas de ator, músico e encenador.
Sua obra é tida como reflexo da mudança dos tempos e da passagem da Idade Média para o Renascimento. Gil faz uma reflexão sobre as regras e padrões presentes na hierarquia e na ordem social e na mudança dessa ordem. Foi o principal representante da literatura renascentista portuguesa, incorporando elementos populares na sua escrita.
Foi um homem ligado ao medievalismo e ao humanismo, ou seja, um homem que pensa em Deus mais exalta também o homem livre.
O Autor critica em sua obra, toda a sociedade de seu tempo, desde os membros das mais altas classes sociais até os das mais baixas. Faz crítica também aos membros que corrompem a Igreja.
Seus personagens ilustram a sociedade da época, com suas aspirações, seus vícios e seus dramas. Geralmente aparecem em sua obra através de sua ocupação ou traço social, sendo raramente chamados pelo nome.
Colocou em cenas fatos e situações que revelam a degradação dos costumes, como a imoralidade dos frades e a corrupção no seio da família.
A linguagem é o veículo que Gil melhor explora para conseguir efeitos cômicos ou poéticos. Suas peças, escritas sempre em versos incorporam trocadilhos, ditos populares e expressões típicas de cada classe social.
A estrutura cênica do teatro vicentino apresenta enredos muito simples.
Gil Vicente não segue a lei das três unidades básicas do teatro clássico. Em sua obra está presente o confronto entre o teocentrismo e o antropocentrismo.

Suas obras podem ser divididas em três fases diferentes:

1ª fase:

- Temas Religiosos

2ª fase:
- Problemas sociais decorrentes da expansão marítima

3ª fase:

- maturidade artística

Sua obra teatral pode ser didaticamente dividida em dois tipos:

Autos: peças teatrais de assunto religioso ou profano; sério ou cômico.
Os autos tinham a finalidade de divertir, de moralizar ou de difundir a fé cristã.

Farsas: são peças cômicas de um só ato, com enredo curto e poucas personagens extraídas do cotidiano.

Sua obra completa contém aproximadamente 44 peças.

A Farsa de Inês Pereira

Auto de Inês Pereira. Feito por Gil Vicente, representado ao muito alto e muito poderoso rei dom João o terceiro, no seu convento de Tomar.
Era do Senhor de 1523.
O seu argumento é um exemplo comum que dizem: mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube.
As figuras são as seguintes: Inês Pereira, sua Mãe, Lianor Vaz, Pero Marques, dois judeus um chamado Latão e outro Vidal, um Escudeiro com um seu Moço, um Ermitão.
Entra logo Inês Pereira e finge que está lavrando só em casa, e canta esta cantiga:
Inês Pereira
Quien con veros pena y muere
qué hará cuando no os viere?
Falado:
Renego deste lavrar
e do primeiro que o usou
ao diabo que o eu dou
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que tam mau é de aturar.
Oh Jesu que enfadamento
e que raiva e que tormento
que cegueira e que canseira.
Eu hei de buscar maneira
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dalgum outro aviamento.
Coitada assi hei de estar
encerrada nesta casa
como panela sem asa
que sempre está num lugar.

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e trazei-me essa senhora.
Inês Pereira
Tudo é nada enfim.
Vidal
Esperai, aguardai ora.
Soubemos dum escudeiro
de feição de atafoneiro
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que virá logo essora.
Que fala e como ora fala
estrogirá esta sala
e tange e como ora tange
alcança quanto abrange
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e se preza bem da gala.
Vem o Escudeiro com seu Moço, que lhe traz uma viola, e diz falando só:
Escudeiro
Se esta senhora é tal
como os judeus ma gabaram
certo os anjos a pintaram
e nam pode ser i al.

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com duas lousas.
Pero Marques
Pois assi se fazem as cousas.
Inês Pereira
Bem sabedes vós marido
quanto vos quero
sempre fostes percebido
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pera cervo.
Agora vos tomou o demo
com duas lousas.
Pero Marques
Pois assi se fazem as cousas.
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E assi se vão e se acaba o dito auto.

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